Pintar a verdade de cores – Parashat Shelach lechá

Em certo reinado do mundo, existia um rei que era muito querido e amado por seus súditos. Porém ele tinha alguns “pequenos defeitos”: possuía somente uma perna, tinha uma corcunda nas costas, e para completar, tinha um olho que permanecia constantemente fechado.
 
Certo dia, este rei decidiu pendurar na parede do palácio uma foto com sua real imagem. Ele chamou um dos maiores pintores do país e pediu-lhe para pintar seu retrato e, em troca, receberia um grande salário. O pintor aceitou a oferta e foi direto ao trabalho. Depois de alguns meses de trabalho, o pintor chegou ao palácio sua obra de arte, um retrato fiel do rei. O rei viu a pintura e, em vez de ficar entusiasmado com a precisão, o rei estava zangado, com o rosto vermelho e repreendeu o pintor: “Você não está envergonhado?” “Assim você me envergonha?” “Você me pinta como um aleijado?”
 
Contestou o pintor: Meu rei, você pediu um retrato, foi o que eu fiz … O rei não se acalmou e ordenou que o artista fosse preso por desprezo ao rei.
 
O rei convocou outro pintor para fazer este serviço. O segundo pintor ao saber o motivo pelo qual foi convocado, aprendeu com a experiência do passado e já era “mais inteligente” e decidiu “renovar” a aparência do rei. Endireitou as costas, ajustou os olhos e, claro, acrescentou uma perna. Depois de meses de trabalho, ele foi ao palácio para mostrar ao rei a obra-prima. E aqui novamente, o rei estava terrivelmente bravo: “Por que você mudou minha aparência? Você acha que eu não sou perfeito na minha aparência atual?” E ordenou que ele fosse mandado para a prisão, para servir como companhia ao primeiro pintor …
 
O rei convocou um terceiro pintor. Este estava em dilema, sobre o que deveria fazer, ao saber o que aconteceu com os dois candidatos anteriores a ele. Pensou, pensou e finalmente “teve uma ideia brilhante”. Ele pintará o rei de lado, atirando com um arco e flecha enquanto monta um cavalo. Assim, a pintura mostrará apenas uma perna, porque a outra estará do outro lado do cavalo. Suas costas estão dobradas como qualquer pessoa que atira enquanto anda. E um olho é enorme, como é o costume dos atiradores, a fim de focar o dano … Desnecessário dizer que o rei adorou esta obra e lhe recompensou como devia.
Segundo a ordem das porções semanais da Torá, estamos agora entre dois casos de lashon hará (calúnia). O primeiro caso é o que consta no final da porção de Behaalotechá (Bamidbar 12:1-14) no qual Miriam comentou sobre a separação de Moshe de sua esposa Zípora. Miriam foi punida com lepra. Por qual motivo D'us pune àqueles que falam calúnias, com lepra? Pois D'us castiga o homem simplesmente exatamente por medida, segundo seus atos.
 
Quando uma pessoa difamar alguém, dizendo calúnias, ele faz com que a sociedade se afaste dele. D'us diz, você fez seu amigo isolado da sociedade – você será punido por medida, você terá lepra e ficará isolado. A pessoa que recebe a lepra, deve se afastar da sociedade, segundo o que consta na Torá (Vaikrá 13:46): “solitário ficará, fora de seu acampamento…”. Ao estar sozinho, ele pensa no ser mais importante para ele… ele mesmo. Neste meio tempo, procurará meios para melhorar, refletindo na sua conduta.
 
A porção posterior à porção de Behaalotechá, é a porção de Shelach Lechá. O assunto principal desta parashá, é a vergonhosa calúnia sobre a terra de Canaã, descrita pelos espiões.
 
É claro que é necessário aprofundar no assunto, para saber o que realmente levou-os a cometer este erro trivial. A punição deste caso, não somente aos espiões como também a todos que aceitaram esta calúnia, foi que não entraram na terra prometida, tão desejada por nossos antepassados.
 
Esses acontecimentos constrangedores, não são apenas eventos históricos, pois consta no Talmud (Baba Batra 164 b-165 a), que a maioria das pessoas, estão envolvidas com avak lashon hará (“poeira ou farelos” da calúnia).
 
Não há momento mais apropriado para trazer o conto acima (sobre os pintores da imagem do rei), do que entre estas duas porções semanais.
 
Você vê em seu amigo, algo que segundo sua opinião, é um defeito. Você vê uma pessoa se comportando de maneira, que segundo sua opinião é inadequada. Saiba, tudo depende de como você “pinta” as coisas. Na sua mão, ou mais corretamente em seu pensamento, está o poder e a possibilidade de pintar a realidade para que à sua visão, esteja mais bonita. Nossos sábios chamam isso de ” julgar a todos para o bem “.
 
Pode ser um pouco difícil, mas certamente possível Vamos tentar ser como aquele terceiro pintor, que não mudou a realidade, pelo contrário, tomou a realidade e a tornou mais bonita …
 
 

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